segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Cardeal Sarah: Fátima, um Evangelho sem compromissos com o espírito mundano

A editora francesa 'Traditions Monastiques' publicou um belo livro ilustrado para crianças, chamado “Fátima, Maria confia-te o segredo do seu Coração”. Por autorização especial da editora, aqui fica o prefácio escrito pelo Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino:

 “Se ao menos pudesse por no coração de alguém o fogo que tenho no meu coração e que me faz amar tanto o Coração de Maria!”. Assim exclamava a beata Jacinta.

2017 é o ano do centenário das aparições da Virgem Maria em Fátima. Por esta ocasião fazemos o ponto de situação sobre como acolhemos a mensagem que Deus nos entregou, no meio da tempestade que abalava a Europa no início do século XX: uma guerra mundial cujas atrocidades superam a nossa capacidade de compreensão (de tal modo que, apenas no dia 22 de Agosto de 1914, contaram-se 27 mil mortos entre os soldados franceses, tornando-se o dia mais sangrento na história de França!), a revolução comunista na Rússia com o seu ornamento de massacres… de 1914 a 1918 a Europa estava coberta de cadáveres de milhões de soldados e de civis inocentes: homens, mulheres e crianças…

Falemos precisamente de crianças: é a três pequenos que Nossa Senhora decidiu falar, entre Maio e Outubro de 1917. Três crianças pobres de uma zona perdida num país num extremo do continente europeu, à margem dos eventos sanguinários que ocorriam: Fátima, em Portugal.

O que disse Nossa Senhora aos Beatos Francisco e Jacinta Marto e à sua prima Lúcia dos Santos, futura irmã carmelita em Coimbra? O livro que tenho a alegria de apresentar explica-o às crianças deste novo milénio, mostrando uma notável capacidade pedagógica: cada capítolo apresenta um aspeto da mensagem de Fátima (“o ouvir”) seguido da sua atualização para as crianças (“o perceber”) e de resoluções pessoais daí derivadas (“também eu…”).

A leitura deste magnífico e bem ilustrado livro faz-nos perceber que os nossos contemporâneos, cuja mentalidade está imbuída de relativismo e hedonismo, têm necessidade de converter o seu coração se quiserem perceber o significado mais profundo da mensagem de Fátima. Os autores apostam que as crianças são capazes de aderir espontaneamente aos aspectos que nos podem parecer mais duros ou austeros na mensagem de Fátima – sem dúvida mais que os adultos – e têm razão em assim crer. A nossa Mãe do Céu, tanto em Fátima como em Lourdes, Pontmain ou em La Salette – isto para citar apenas as aparições mais conhecidas –não terá escolhido crianças, e crianças pobres, para nos revelar o segredo do seu Coração Imaculado? E qual é este segredo? 

Nada mais que o Evangelho, mas o Evangelho sem adornos, sem acomodamentos ou compromissos com o espírito de um mundo que quer abrir-se para todos os lados, tolerante, a-religioso e amoral, pois esta Boa Nova do Evangelho é o anúncio da salvação! Nós sabemos que os beatos Francisco e Jacinta levaram com tal seriedade a salvação das almas que todos os dias ofereciam sacrifícios que muitas vezes eram difíceis para pequenas crianças “pela conversão dos pecadores”, até ao oferecimento total da sua vida jovem, que a doença levou quando tinham dez anos de idade.

Não é verdade que o beato Francisco, que percebia o sentido das palavras “sacrifício” e “oferecimento”, dizia: “A Virgem Maria e o próprio Deus estão infinitamente tristes. Temos de os consolar”? Também este mundo, aparentemente invejoso, inundado por luzes de todas as cores e bêbado de felicidade é um mundo infinitamente triste, porque está contaminado pelo pecado e da violência cega. Só resta a pureza e os sacrifícios das crianças que podem voltar a dar ao mundo a verdadeira alegria, aquela que vem do Céu. Quanto a Lúcia, assim como Bernadette de Soubirous retira-se em silêncio e em oração na sombra de um claustro até à sua morte, que acontece em 2005. Efectivamente, a Virgem Maria tinha-lhe dito que viveria muitos anos para difundir a devoção ao seu Imaculado Coração, através de uma vida oferecida em holocausto de amor.

Sacrifício, penitência, reparação pelas ofensas, consagração de si mesmo: estaremos portanto prontos a acolher estas palavras, que quase proibimos ou rejeitámos do nosso vocabulário? Na verdade estas palavras correspondem a realidades espirituais que são essenciais, porque estão presentes e assumidas na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sou muito sensível à preocupação de todos os pais que desejam que a educação cristã dos seus filhos seja embebida destas realidades inalienáveis, favorecedoras de alegria nesta terra e de felicidade eterna na pátria definitiva, para a qual todos estamos a caminho.

Estas são as vias de santificação que as autoras Tollet e Storez nos oferecem com este livro, são os meios do cristão que é consciente do facto de que, como disse o Senhor à beata Ângela de Foligno (uma grande mística italiana do século XIII): “Não é para te fazer rir que te amei”. Sim, aquilo que pode salvar os pecadores do desespero e logo do inferno – que os três pastorinhos de Fátima puderam ver – é unicamente Jesus, e Jesus crucificado.  

Assim como os pastorinhos de Fátima nos mostraram com a sua vida, trata-se de deixarmo-nos transformar pelo Amor de Deus, pela sua Misericórdia que nos é totalmente revelada na Cruz de Cristo. Contemplando as chagas do Senhor Jesus, em particular o seu coração trespassado, que está intimamente unido ao Coração Imaculado e doloroso de Maria, também nós somos chamados a deixar-nos formar por Aquele que é o Cordeiro sem mancha, para que nos tornemos uma só coisa com Ele.

in lanuovabq.it


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O que são vidas indignas de serem vividas?

Teorias recentes da evolução sugerem que a antiga ideia social-darwinista da “sobrevivência dos mais fortes” não podia estar mais enganada. O que fez do homo sapiens a espécie dominante, segundo muitos biólogos actuais, é precisamente a nossa capacidade de cooperar, agir de forma altruísta e de proteger os membros mais fracos da tribo.

Esta teoria torna ainda mais incompreensíveis os actuais esforços da comunidade médica no sentido de purificar a “piscina” genética através da eugenia. Actualmente, por exemplo, 90% dos bebés por nascer diagnosticados com Síndrome de Down são abortados. De facto, há forças poderosas que já anunciaram repetidamente a sua intenção de erradicar as crianças com Síndrome de Down nos próximos anos. Não se referem ao tratamento da condição, querem erradicar as crianças, abortando-as depois de as diagnosticarem.

As mulheres perguntam-me frequentemente se é verdade que a lei as obriga a fazer uma amniocentese, porque os médicos disseram que sim. A resposta a esta pergunta é, (por ora), não. Mas as pessoas insistem que sim por duas razões: primeiro porque se querem defender – isto é, não querem ser processadas se vier ao mundo uma criança que a mãe preferia ter abortado (o termo para isto é “vida injustificada”). Em segundo lugar, talvez queiram juntar-se ao movimento eugenista que está actualmente a tentar erradicar aqueles que considera terem “vidas indignas de serem vividas”.

Este termo, “vidas indignas de serem vividas” (Lebensunwertes Leben), era usado pelos médicos alemães para descrever crianças com atrasos mentais nos anos 30, enquanto desenvolviam métodos de “eutanásia” que seriam o primeiro passo na erradicação de todos estes “indesejáveis”, a caminho da “Solução Final”.

O que é que torna estas crianças tão ameaçadoras que alguns querem que sejam totalmente erradicadas? Porque é que nos incomodam tanto? Permitam-me um pequeno impulso freudiano: Eu acho que é porque nos revemos neles. Isto é, revemos os momentos mais embaraços das nossas vidas: Quando deixámos cair o tabuleiro na cantina e toda a gente se riu e bateu palmas, quando não sabíamos a resposta que toda a gente sabia, quando nos comportámos da mesma maneira de sempre, acabando por descobrir que era muito “pouco fixe” e todos os miúdos fixes reviraram os olhos em desprezo.

Estas crianças somos nós no nosso estado mais fraco, mais vulnerável, mais envergonhado. E ninguém quer parecer ou sentir-se assim. De facto, o medo de passar vergonhas é talvez uma das razões pelas quais, em estudo após estudo, o medo de falar em público ultrapassa em muito o medo da morte nas prioridades dos inquiridos. “Aqueles a quem os deuses pretendem destruir, primeiro envergonham”. Estas crianças ferem-nos no nosso ponto mais fraco e preferimos não olhar para essa parte do nosso ser.

É precisamente por isso que elas são dos maiores dons de Deus para a humanidade. Recordemos Paulo: “Quando sou fraco, então é que sou forte.” Assim é connosco também. Quando conseguimos olhar aquela parte de nós que é fraca, vulnerável e socialmente desajustada e dizer: “Sim, também isto é amado por Deus, também isto é santificado por Deus”, então estaremos finalmente no caminho da saúde e do desabrochar da nossa humanidade.

Eu temo uma cultura que queira erradicar as crianças com Síndrome de Down e os deficientes mentais, e todos os que não são fortes, activos e produtivos. Temo-a porque os promotores de uma tal cultura estão a tentar matar aquilo que é mais humano em nós. Cuidar e viver com crianças com Síndrome de Down humaniza-nos: ensina-nos a amar desinteressadamente, como Cristo nos amou. Ensina-nos a amar-nos a nós mesmos, mesmo aquelas parte de nós que preferíamos que os outros não vissem, que nós mesmos preferimos não ver.

Precisamos destas crianças entre nós. Precisamos delas mais do que precisamos do mais recente iPad ou “smart” phone. Daqui a cem anos ninguém vai querer saber da nossa tecnologia, como os meus alunos se estão a marimbar para a tecnologia francesa do século XVIII ou alemã do século XIX. O que vai mesmo fazer diferença é a forma como tratámos os mais fracos e vulneráveis de entre os nossos.

Se cumprirmos fielmente esse chamamento, então a nossa será uma cultura que merece ser recordada. Se valorizarmos a nossa capacidade tecnológica acima de tudo o resto, e tivermos tal sucesso nesse campo que não deixamos espaço nas nossas vidas para os mais desfavorecidos, seremos recordados da forma como recordamos a Alemanha dos anos 30: puseram os comboios a andar a horas – depois usaram-nos para transportar seis milhões de judeus e outros “indesejáveis” para os campos de concentração.

No fim de contas Deus é o nosso único verdadeiro espectador e comparado com ele, o Criador do Universo, temos a capacidade intelectual de uma minhoca. Mas Ele consegue amar-nos apesar disso. Nunca estamos mais próximos dele, do que quando abraçamos aquela parte de nós que podemos ver nas crianças com Síndrome de Down: Simples, cheio de alegria, vulnerável.

Estas crianças precisam da nossa ajuda, mas nós precisamos mais delas. Elas tornam-nos humanos. O maior presente que Deus dá àqueles que estão cheios de presunção é o dom da humildade. Como disse, e bem, o poeta T.S. Elliot: “A única sabedoria que podemos esperar alcançar é a humildade: a humildade é infinita.”

Randall Smith in 'The Catholic Thing'


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domingo, 26 de fevereiro de 2017

Coisas que Jesus nunca disse sobre o adultério




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Do ateísmo e luxúria ao catolicismo e castidade

Conheceram-se nas Caldas da Rainha. Ele era fisioterapeuta, ela ceramista. Oriundo de Oeiras, filho de mãe católica e de pai ateu, foi baptizado em pequeno e tinha levado umas breves pinceladas de catequese. Ela nascida numa aldeia da Beira Baixa tinha estrutura cristã mas não praticava. Ele era convictamente anti-católico, ela indiferente. Viveram a sua paixão com as intimidades próprias dos casados, sem o serem, durante três anos.

Um dia encontrou um amigo que o persuadiu a passar um fim-de-semana especial com um grupo de gente nova, uns padres, um casal e uma freira! Quando perguntou que gente era essa o amigo respondeu-lhe que era informal, que não tinha nome mas que alguns denominavam-no K. Como confiava no conhecido achou graça ao enigma. Entrou ateu numa Sexta-feira à tarde, saiu católico no Domingo seguinte. Tinha encontrado Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, e a Sua Igreja. 

A transformação foi tal que quando encontrou a amásia (i.e. amante) a deixou totalmente perplexa. Causa de tal assombro senão mesmo despeito foi a determinação com que ele decidiu viver castamente, renunciando aos actos próprios dos cônjuges. Algum tempo depois também ela participou num retiro semelhante. Reencontrando a Fé da infância, mas agora de um modo maduro, compreendeu muito bem o namorado. Viveram então numa grande sintonia com Cristo e um com o outro.

Testemunharam, em público, anos mais tarde, já casados e com filhos, por diversas vezes, que o facto de terem vivido a castidade perfeita naqueles dois anos, que decorreram entra a sua decisão e o matrimónio, tinham sido de uma importância fulcral para a sua relação e para a vivência enquanto casados. Tivemos grandes tentações, confidenciavam, mas pela graça de Deus resistimos e aprendemos a evitar as ocasiões de queda. Nisto pôde muito o jejum, a oração, a confissão sacramental frequente e a participação quotidiana na Santa Missa. Lamentavam não terem conhecido o Senhor desde sempre porque só teriam ganho em terem acolhido sempre a Sua vontade, que era afinal o bem deles, o amor verdadeiro.

Ele, entretanto, por inspiração Divina, e alguns empurrões do seu assistente espiritual, licenciou-se em Teologia com uma cuidada tese sobre os leigos na Igreja.

Vivem actualmente no Norte e têm cinco filhos. Ele lecciona Religião e Moral num colégio particular, ela realiza admiravelmente a sua vocação de mãe e de esposa. Quem tem ouvidos para ouvir que oiça. À honra de Cristo. Ámen.

Pe. Nuno Serras Pereira


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sábado, 25 de fevereiro de 2017

D. Athanasius Schneider ordenou 7 sub-diáconos da FSSP

O seminário da Fraternidade Sacerdotal de São Pedro, que se encontra em Wigratzbad (Alemanha), está em festa. D. Athanasius Schneider conferiu as ordens menores a 16 seminaristas e ordenou 7 sub-diáconos de vários países: França, Brasil, Itália e Polónia.












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Beleza na Liturgia: para glória de Deus e salvação das almas



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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

4 anos do último Angelus com o Papa Bento XVI

Há 4 anos, o Papa Bento XVI rezava o último Angelus na Praça de São Pedro.



Amados irmãos e irmãs, sinto de modo particular dirigida a mim esta Palavra de Deus, neste momento da minha vida. Obrigado! O Senhor chama-me a «subir ao monte», a dedicar-me ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja, aliás, se Deus me pede isto é precisamente para que eu possa continuar a servi-la com a mesma dedicação e com o mesmo amor com que procurei fazê-lo até agora, mas de uma forma mais adequada à minha idade e às minhas forças.


Papa Bento XVI,
Angelus na Praça de São Pedro
Domingo, 24 de Fevereiro de 2013




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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O Papa não disse que é preferível ser ateu do que cristão hipócrita

Fomos invadidos por uma torrente de notícias sobre umas (supostas) declarações do Papa Francisco. Os títulos gritaram em uníssono: "Papa diz que mais vale ser um ateu do que um cristão hipócrita / cristão com vida dupla". 

Desconfiando do que noticiavam os nossos amigos jornalistas - como aliás recomendo a toda a gente - fui ler a homilia da Missa hoje de manhã no Vaticano, na qual o Papa teria proferido essa afirmação.

Em primeiro lugar a palavra 'hipócrita' ou 'hipocrisia' não consta. É um insulto bastante repetido por parte dos que não acreditam em Deus ou dos que até acreditam mas não lhes apetece ir à Missa: "Esses que vão à Missa são todos uns hipócritas, andam ali a bater com a mão no peito e depois vêm cá para fora e são os piores!" Isto mostra que, mesmo os que não acreditam, associam o ir à Missa a uma maior responsabilidade moral que não atribuem a outras actividades: "Pois, vais ao cinema e depois nem sequer pões a mesa!" Simplesmente não tem o mesmo impacto. 

A relação entre ir à Missa e ter uma vida perfeita existe na mentalidade das pessoas, mesmo na nossa sociedade, que de cristã já não tem muito. E perante comportamentos menos bons, erros, cobardias, egoísmos, enfim todas as diferentes 'caras' que pode ter o pecado, por parte dos tais que vão à Missa, está o caldo entornado: "Hipócritas!" 

O erro nesta crítica está no pressuposto que quem vai à Missa já é perfeito, o que não é de todo verdade. Alguém que vai à Missa tem o direito a ser visto como alguém que está a tentar ser perfeito, embora possa ainda estar muito longe de o ser. Ao mesmo tempo, essa pessoa tem o dever de realmente tentar ser perfeita (ser santa) mesmo que sabendo que poderá cair e terá de voltar a levantar-se, se necessário for recorrendo à Confissão. 

O que não pode fazer é ter comportamentos escandalosos, como se não se soubesse filha de Deus, templo do Espírito Santo, sal da Terra e luz do Mundo. Foi isto que o Papa criticou na sua homilia de hoje: os escândalos criados pelos cristãos junto dos outros, que os podem afastar ainda mais de Deus.

Em segundo lugar, a palavra 'ateu' aparece apenas uma vez na homilia, e a frase é esta: «Quantas vezes já ouvimos na rua ou em outros locais alguém dizer: "Para ser católico como aquele é melhor ser ateu!" É isto o escândalo, que destrói, que manda abaixo.»

Expliquem-me, meus senhores, onde é que o Papa disse aquilo que vocês dizem que o Papa disse. Na única vez que fala do 'ateu' o Papa está a citar uma frase, bastante comum, não a afirmá-la. As verdadeiras 'fake news' são os 'media'. Não precisamos de mais.

João Silveira


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Cardeal Burke explica que missão no Guam não é punição do Papa

Entrevista ao Cardeal Raymond Leo Burke, Patrono da Ordem de Malta. Nos últimos dias, o prelado americano, de 68 anos, foi enviado à ilha de Guam - a 12.000 km de Roma - para investigar um caso de abusos sexuais que remonta aos anos 70. De acordo com alguns teria sido um castigo do Papa, mas, na realidade, quando o Papa foi informado já o Cardeal já estava na ilha do Pacífico.

Cardeal Burke, como surgiu esta missão na ilha de Guam?

A missão nasceu de um pedido da Congregação para a Doutrina da Fé para que eu servisse como presidente do seu Tribunal Apostólico. Vou ter que lidar com um caso delicado de direito eclesiástico penal.

Por que razão foi escolhido?

O Papa confiou o caso à Congregação, e a Congregação procedeu de acordo com as normas para a constituição dos membros do Tribunal. Seja como for, penso ter sido escolhido com base nos meus estudos de direito canónico e a minha longa experiência com processos eclesiásticos.

Então não foi o Papa a pedir-lhe para ir?

O Papa nunca falou comigo sobre esta missão. Eu lidei exclusivamente com os superiores da Congregação para a Doutrina da Fé, que é o procedimento habitual nestes casos.

Quanto tempo irá durar essa tarefa na ilha de Guam?

A parte da minha missão que deve ter lugar em Guam será concluída brevemente. Não se sabe quanto tempo será necessário para completar toda a instrução da causa, mas espero terminar o trabalho antes do Verão.

Muitos têm dito que seria uma "punição" do Papa, porque o Cardeal Burke seria um opositor. É verdade?

Não, não vejo esta missão como uma punição do Papa e certamente não a estou vivendo como um castigo! É normal que um Cardeal, de acordo com a sua preparação e disponibilidade, possa receber atribuições especiais para o bem da Igreja. Eu não fiquei surpreendido com o pedido da Congregação para a Doutrina da Fé e aceitei, consciente da grande responsabilidade que implicava, mas sem pensar em outras motivações por parte do Papa Francisco ou da Congregação.

in stanzevaticane.tgcom24.it


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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

13 imagens da coroação de Nossa Senhora de Fátima em Londres

Nossa Senhora de Fátima foi coroada pelo Cardeal Nichols na Catedral de Westminster, em Londres. O arcebispo de Westminster também re-consagrou a Inglaterra e o País de Gales ao Coração Imaculado de Maria. Esta cerimónia teve também como finalidade comemorar o centenário das aparições de Fátima.















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terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Nossa Senhora de Fátima coroada em Londres

No passado Domingo, 19 de Fevereiro, Nossa Senhora de Fátima foi coroada pelo Cardeal Nichols em Londres. Neste vídeo os fiéis cantam o 'Avé de Fátima', na despedida da Santíssima Virgem.




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domingo, 19 de fevereiro de 2017

Morreu a responsável pela legalização do aborto nos Estados Unidos, que depois se arrependeu

Norma McCorvey foi 'Jane Roe'. Em 1970, persuadida por uma jovem advogada, alegou em tribunal (Estado do Texas) que a sua gravidez resultara de um estupro e exigia o direito ao aborto. Depois de sucessivos recursos o processo chegou ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos. Este decidiu, há 44 anos, que a lei do Texas que impedia que Jane Roe acabasse com a vida da sua filha por nascer era inconstitucional . Mas em 1973, quando foi emitida a decisão, aquela criança já havia nascido e adoptada por uma família do Texas, sem ter consciência que tinha corrido sério risco de vida.

Existe uma mulher de 47 anos, nascida no Texas, que deveria estar morta; que jamais deveria ter nascido. Felizmente o processo que tinha como intento a sua morte demorou 3 anos e, assim, ela pôde nascer. E hoje, algures, talvez ainda no Texas, vive essa mulher de 47 anos. Talvez com um marido e uma família que não podem imaginar a vida sem ela. Talvez com belos filhos que muito ama e que muito a amam. Talvez com amigos para os quais a sua amizade foi fundamental nas suas vidas.

A Mãe dessa mulher, Norma McCorvey, arrependeu-se da sua luta a favor do aborto. Admitiu que nunca tinha sido estuprada e que tudo tinha sido combinado pela sua advogada de modo a ganharem o caso. Em 1998 converteu-se ao catolicismo. Passou os últimos 20 anos da sua vida a lutar contra o aborto, que tinha ajudado a legalizar. Morreu ontem, aos 69 anos. Que descanse em paz.

João Silveira


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sábado, 18 de fevereiro de 2017

Unidade na diversidade




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A doce morte de Santa Bernadette, vidente de Lourdes

Uma superiora visitou-a no leito das dores: 

- Que faz aqui, minha preguiçosa? disse sorrindo, amável. 
- Minha Madre, eu estou no meu ofício.
- E que ofício é o seu, minha filha?
- O meu ofício é sofrer e estar doente.

Mandaram-lhe um crucifixo para a cabeceira da cama.

- Sou mais feliz, - disse Bernadette - com o meu Cristo no leito de dores do que uma rainha no seu trono.

Às crises de asma, dolorosas e terríveis, juntaram-se os vómitos de sangue, a opressão do peito e dores intoleráveis causadas por um abcesso que se formou no joelho direito. Mais um tumor e uma aquilose. Os sofrimentos eram horríveis, e a vítima tinha já a face cadavérica. Não dormia um só instante. Às vezes, a natureza deixava escapar um grito de dor, mas a Irmã Maria Bernarda (Bernadette) humilhava-se e sorria heroicamente, repetindo:

- Perdão, meu Jesus! Meu Deus, eu vos ofereço o meu sofrimento! Meu Deus, eu vos amo!

O capelão do mosteiro disse-lhe que pensasse no Céu e que iria contemplar a beleza da Imaculada.

- Oh, respondeu ela, como este pensamento me faz bem!

Às vezes, murmurava com uma nostalgia do Céu:

- Oh Céu! Dizem que muitas almas não foram directamente para o Céu, porque não o desejaram bastante aqui no mundo. Isto não acontece comigo! Ah! Vamos para o Céu, trabalhemos, soframos pelo Céu, o resto nada vale.

A moléstia agravava-se cada vez mais. Ela sempre resignada. Disse, então:

- Ó cruz, vós sois o altar no qual eu me quero sacrificar com Jesus agonizante. O coração de Jesus é o meu tesouro. No coração de Jesus viverei e morrerei em paz no meio dos sofrimentos.

Despojou-se de tudo que possuía, isto é, algumas imagens e santinhos. Só conservou um crucifixo.

- Só tenho necessidade dele. Só ele me basta.

Depois da festa de São José, disse:

- Eu pedi a São José uma só graça: a graça de uma boa morte.

No dia 28 de Março, a superiora perguntou-lhe se desejava receber a extrema-unção. Aceitou-a com alegria! Às duas horas da tarde, o capelão administrava-lhe o sacramento dos enfermos. Recebeu-o com edificante fervor em presença de uma boa parte da comunidade.

- Minhas irmãs, peço-vos perdão por todos os aborrecimentos e trabalhos que vos dei, das minhas infidelidades na vida religiosa e do mau exemplo que dei às minhas companheiras, sobretudo pelo meu orgulho.

O olhar de Bernadette, durante toda a doença, conservou-se belo, vivo, impressionante. Era aquele olhar da visão de Massabielle.

O demónio tentava-a, Nosso Senhor permitia, a fim de purificar ainda mais aquela almazinha privilegiada. Ela ficava num estado de agonia dolorosa e horrível, com a face em expressão de espanto, e repetia:

- Vai-te, Satanás! Vai-te, Satanás!

O capelão disse-lhe:

- Ofereça a Jesus o sacrifício da vida, minha filha.
- Que sacrifício, meu padre? Não é sacrifício deixar esta pobre terra, onde se encontra tanta dificuldade para servir a Deus!

Perguntaram-lhe:

- Sofre muito, minha irmã?
- Sim, mas tudo é bom para o Céu, respondeu com doce resignação.
- Eu vou pedir à boa Mãe do Céu que lhe dê alguma consolação, minha Irmã Maria Bernarda.
- Não, não, - repetiu ela, - não peça consolações. Peça a Nossa Senhora força e paciência para mim. Só isto...

Quarta-Feira Santa, o capelão foi chamado às pressas para a Irmã Maria Bernarda. Ela estava na poltrona, sentada, sem poder respirar, num martírio cruel. Confessou-se pela última vez. 

- Minha filhinha - disse-lhe a Madre superiora - agora está na cruz, não é?

Bernadette abriu os braços em forma de cruz e murmurou:

- Meu Jesus! Meu Jesus! Oh! Como vos amo!

Para não perder o crucifixo, pediu que lho pregassem ao peito. Recitaram a oração dos agonizantes. Repetia todas as jaculatórias que lhe diziam ao ouvido.

Uma hora antes da morte, ficou tranquila, fitou um ponto do alto. Depois exclamou, feliz:

- Oh! Oh! Oh!

E alguns segundos depois:

-- Meu Deus, eu vos amo de todo o meu coração, de toda a minha alma, com todas as minhas forças.

Tomou o crucifixo, beijou-o, pediu perdão à comunidade e disse:

- Eu tenho sede!

Deram-lhe água. Apenas molhou os lábios.

Fez o sinal da cruz, aquele admirável sinal da cruz que só ela sabia fazer.

Murmurou alguns instantes depois:

- Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por mim, pobre pecadora... pobre pecadora...

E expirou suavemente.

Eram três horas e um quarto de tarde de Quinta-Feira Santa, 16 de Abril de 1879.

Mons. Ascânio Brandão in 'Santa Bernadete, a confidente de Lourdes', Ed. Vozes, 1956, 3ª. Edição


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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Alguém reparou nestes pormenores do filme 'Silêncio'?

Apresento aqui alguns pequenos e grandes pormenores que me chamaram a atenção no último filme de Martin Scorsese: Silêncio. O filme baseia-se no romance ‘Chinmoku’, do autor japonês Shusaku Endō, por isso nem todos os méritos ou deméritos podem ser associados a Scorsese. Seja como for, para simplificar as coisas, vou escrever como se todas as ideias tivessem sido suas.

Tema

É um filme bastante ‘pesado’, durante o qual somos confrontados com um dilema moral que nos deixa exaustos. É bom pôr-se problemas morais. É bom pensar entre o que é certo e o que é errado porque todos os dias somos obrigados a tomar decisões e muitas vezes deparamo-nos com a indecisão entre fazer o bem, que normalmente custa mais, ou o mal, que normalmente é o caminho mais fácil…pelo menos assim parece.

Qualidade técnica


A qualidade técnica é excelente. Estamos (mal) habituados a que muitos dos filmes que retratam estes assuntos relacionados com o cristianismo sejam produções low-budget, com má imagem, mau som e até maus actores. Felizmente não é o caso.

Martírio


O filme começa com uma cena bastante dura sobre o martírio dos cristãos no Japão. Este relato é histórico e muito próximo do que realmente aconteceu durante a perseguição aos cristão. Um bom exemplo é o testemunho de São Paulo Miki e seus companheiros. Ver aqui e aqui.

Fé dos pequeninos

Os sacerdotes, enquanto representantes da Igreja, dispensadores dos sacramentos e responsáveis pela pregação foram os primeiros a ser perseguidos pelas autoridades japonesas. O povo deu por si a ter de esconder a sua fé e, além disso, sem sacerdotes que os ouvissem em confissão e celebrassem a Santa Missa. Quando aqueles dois jovens jesuítas chegam àquela população a alegria daquela gente é contagiante…e comovente. Passaram muito tempo apenas com o sacramento do baptismo, que em caso de necessidade pode ser administrado por um leigo, mas os outros sacramentos não.

É uma verdadeira bofetada de luva branca a cena em que os dois sacerdotes começam avidamente a comer e, passados uns segundos, ouvem-se os aldeões, de mãos postas, a pedir a bênção dos alimentos. Ainda para mais em latim, exactamente como se fazia na Europa de onde eles tinham acabado de chegar. Provenientes da Europa cristã, e ainda para mais sendo sacerdotes, deveriam ser estes os primeiros a rezar, ensinando o povo. Mas a resistência à perseguição e a confiança em Deus tinha tornado a fé daquelas pessoas o aspecto mais importante da sua existência, de tal modo que viviam na Terra mas com os olhos postos no Paraíso. 

Um bom exemplo disto é a morte do último dos 3 fiéis crucificados, que usa as poucas forças que lhe restam para cantar o 'Tantum ergo', um hino eucarístico em latim, escrito por S. Tomás de Aquino, que é usado durante a Adoração ao Santíssimo Sacramento desde o séc. XIII. 

Santa Missa

Um dos momentos mais fortes do filme é o princípio da Missa. Podemos apenas imaginar o quanto aquelas pessoas tinham ansiado pela Missa; depois de todos aqueles anos sem o Santo Sacrifício do Altar, e sem poderem comungar o Corpo de Cristo. Desta vez a lição é para todos nós que temos a Missa a qualquer hora que nos seja mais cómoda e não pomos lá os pés. Outras vezes pomos os pés mas não o coração.

A Missa foi celebrada no Rito Antigo, correspondente ao rito romano desde os primeiros séculos da era cristã até ao Missa do Papa Paulo VI, em 1970. Neste momento existem esses dois modos de celebrar, sendo que o Rito Antigo é por vezes chamado de Forma Extraordinária ou (erradamente) Missa Tridentina. Os missionários, muitos deles portugueses, levaram para o Mundo Novo o seu próprio rito, que era o romano. É interessante que hoje em dia, nas poucas igrejas em Portugal onde existe o Rito Antigo, a Missa seja igualzinha, sem tirar nem pôr, àquela Missa que se passou há 400 anos, do outro lado do mundo. 

No início da Missa o povo está todo de joelhos. Um padre celebra e outro serve (antes de 1970 não existia a concelebração). A Missa, que é em latim (antes de 1970 não existia a Missa em vernáculo), começa com o salmo 42, no qual o sacerdote pede ajuda a Deus pelo enorme acto que está para cumprir. O ajudante à Missa, que neste caso era o outro sacerdote, responde também com o mesmo salmo. Essa intercalação está muito bem conseguida no filme. Scorsese fez bem o trabalho de casa, neste caso.

Confissão

Quando chegam até àquelas pessoas sedentas de Cristo, os dois padres passam noites inteiras a confessar. A emoção dos penitentes é uma boa imagem da necessidade e da beleza deste sacramento, ao qual chegamos culpados e saímos inocentes, graças à morte de Jesus na Cruz. Mas o maior protagonista da confissão chama-se Kichijiro e mostra-se perito em apostatar. 

Por um lado a personagem está bem conseguida porque a maior parte de nós também é assim: confessa-se sempre dos mesmos pecados. E isto não quer dizer que não estejamos arrependidos quando nos confessamos, caso não estivéssemos a confissão seria inválida, mas sim que somos fracos e se calhar pomo-nos a jeito para cair outra vez nos mesmos erros. E este é o ponto, pelo qual aqui a confissão é apresentada como uma caricatura. Kichijiro poderia muito bem estar arrependido do pecado gravíssimo que fazia (recorrentemente), mas não estava disposto a fazer propósito de emenda, que inclui sempre evitar ocasiões de pecado. Ele continuava a viver num ambiente em que sabia que ia ser confrontado frequentemente com a escolha entre a vida e o negar a fé. Se realmente ele quisesse deixar de apostatar, e conhecendo a sua fraqueza, teria de sair dali. O seu confessor deveria ter-lhe dito isto, e talvez até imposto como condição para a absolvição daquele pecado muito grave.

Judas e Jesus: Horto das Oliveiras

Naquela época de perseguição, a denúncia de um sacerdote rendia 300 moedas de prata. Isto remete imediatamente para a traição de Judas, que denunciou Jesus por 30 moedas de prata. E esse paralelismo torna-se real. O Padre Rodrigues faz o papel de Jesus, como ele próprio se via, e Kichijiro (quem mais?) o papel de Judas. A cena passa-se à beira de um rio, que o sacerdote usa para matar a sede, enquanto tem mais uma das suas alucinações, vendo o rosto de Jesus Cristo na água em vez do seu. Tal como aconteceu no Horto das Oliveiras, os soldados aparecem de surpresa e rodeiam o Padre. O Judas da ocasião, Kichijiro, recebe ali o preço pela sua traição: as 300 moedas de prata; que caem no chão à semelhança de como Mel Gibson, na ‘Paixão de Cristo’, retratou o momento em que o traidor recebeu o seu prémio. 

Exército de dois

Voltando atrás para contextualizar. Os dois jovens jesuítas tinham pedido ao seu superior que os deixasse ir até ao Japão de modo a poderem resgatar o Padre Ferreira, que alguns diziam ter renunciado ao cristianismo. O jesuíta mais velho percebe que a missão seria bastante perigosa e, ao princípio, está reticente mas, perante a insistência dos jovens, envia-os…como um exército de dois. Os dois últimos padres a irem para o Japão. Uma última tentativa de manter aquele território longínquo ainda como terreno de missão.

E foram realmente um exército de dois. Enquanto andavam juntos ambos ajudavam-se mutuamente. Um compensava as falhas e imprecisões do outro. Ajudavam-se nos momentos de menos confiança em Deus e, assim, iam levando avante a sua missão. Mas tudo mudou quando se separaram.

Padre Garupe

Aparentemente era o elo mais fraco. Quando já estavam no Japão, a ajudar as comunidades cristãs, mostrou-se bastante ansioso pelo tempo que demoravam a encontrar o Padre Ferreira. A ponto de pedir desculpa ao seu companheiro de missão, Padre Rodrigues, por isso. Este diz-lhe que ele é um mau jesuíta, pela falta de paciência que mostra. Apesar dessa sua falta de virtude, o Padre Garupe teve a humildade de pedir desculpa, algo que o Padre Rodrigues nunca faz. Quando se separam, o Padre Garupe mostra de que massa é feito e acaba por morrer mártir, enquanto tenta salvar a vida de outros cristãos. Mais uma vez, ao contrário do Padre Rodrigues. 

Padre Rodrigues

No tal exército de dois assume o papel de líder. Parece o modelo de jesuíta perfeito, a comparar com o impaciente Padre Garupe. No entanto, quando os dois se separaram vai mudar completamente de atitude. Não aparece mais a celebrar a Missa. Não ouve confissões, tirando as do inevitável Kichijiro. Praticamente não reza. Revela sempre um semblante pesado. Começa a ter alucinações.

Este modus vivendi vai acompanhá-lo também depois de ser feito prisioneiro. Embora se mostre bastante tranquilo e dono de si à frente dos seus captores, quando está na sua cela passa por longas agonias e períodos de desespero. 

O Padre Rodrigues é inteligente e remete ao silêncio os seus adversários em todas as discussões. Ele não perde uma. E nem se pode dizer que os seus argumentos fossem arrogantes, são bastante lógicos, simples e muito verdadeiros. Apesar disso, no modo como encara a sua situação como se fosse o próprio Cristo, e é essa ousadia que lhe vai sair cara. Num comentário depois duma conversa com o Padre, o intérprete desabafa, com toda a tranquilidade, que os arrogantes são os primeiros a apostatar. 

De Jesus a Pedro: o galo cantou

Chegamos à parte mais dura da narrativa. Finalmente o Padre Rodrigues encontra o desaparecido Padre Ferreira, seu antigo professor. Este demonstra pouco à vontade na conversa, quase como se estivesse ali obrigado ou como se lhe pesasse a consciência pela negação constante da fé que tinha sido a sua vida nos últimos anos. Perante as acusações do jovem jesuíta, Ferreira defende-se fazendo uma apologia do Japão como uma terra onde o cristianismo jamais poderia vingar; e que quando se falava aos cristãos japoneses do Filho de Deus eles apenas imaginavam o sol, porque a sua cultura não conseguia ir além do natural, o sobrenatural era impensável. 

O Padre Ferreira faz nesse momento o papel do demónio quando tenta Jesus, tanto no deserto como durante a Paixão. É a tentação que apresenta a decisão mais fácil, com todas as suas vantagens, em contraste com a decisão mais difícil, com todas as suas desvantagens. Os argumentos que apresenta são obviamente falsos. Eram desmentidos pela fé enorme que o Padre Rodrigues tinha visto naquele povo. Mas só o facto de aquela conversa existir é suficiente para lhe deixar uma dúvida, ainda que pequena, sobre se o que lhe é dito não será, afinal, a verdade. Este é o perigo de dialogar com a tentação, especialmente quando vem de um inimigo mais sagaz do que nós. Numa situação destas não se deve alimentar a tentação ou tentar ser razoável com ela, deve-se cortar prontamente com aqueles pensamentos ou com aquela conversa.

O intérprete diz ao Padre Rodrigues: “O Inquisidor diz que hoje à noite vais apostatar.” Parece estranho que o prisioneiro tenha ouvido esta profecia e não se tenha preparado convenientemente para o que estava para vir. E de facto apostatou. E mal o fez o galo cantou…3 vezes. É inevitável que não sejamos transportados imediatamente para a traição de Pedro, que negou Jesus 3 vezes depois da prisão do seu Mestre. Também Pedro se tinha julgado forte, incapaz de negar Jesus, tinha-o garantido a Ele mesmo à frente de todos os outros apóstolos. Finalmente cai a a máscara: o Padre Rodrigues não era Jesus, era Pedro. Tinha-se em boa conta mas na hora da verdade foi cobarde.

Apostasia

Este foi o tema mais discutido em relação a esta história. Será que podemos dizer que tudo se resume a defender a apostasia? Creio que não, seria uma análise demasiado simplista. Será que se pode dizer que não existe uma relativização da apostasia? Também creio que não, a apostasia é apresentada como o mal menor que deve ser escolhido quando se trata de evitar o sofrimento, tanto próprio como alheio.

Esta parte da história mostra falta de visão sobrenatural. É verdade que os sofrimentos infligidos pelos agressores são horrorosos. Mas também é verdade que para quem crê em Deus o sofrimento não tem a última palavra. O símbolo máximo do cristianismo é Deus feito homem morto numa cruz, para nos salvar. O sofrimento aceite voluntariamente e unido à cruz de Jesus pode ser redentor, e é um instrumento (nunca um fim) através do qual se pode amar mais a Deus e os outros. Faltou ali a perspectiva da vida eterna, da felicidade infinita que não acaba, que em teoria todos queremos mas na prática nem sempre. Os cristãos do início do filme falavam do Paraíso, como meta da sua vida. Mas na apostasia do Padre Rodrigues essa ideia já não se encontra presente, tudo o que conta é acabar com aquele sofrimento aqui e agora. 

A palavra 'Martírio' vem do grego, e quer dizer ‘testemunho’. Os mártires sempre foram um testemunho para os outros cristãos, um incentivo para serem santos. Daí que as suas relíquias tenham sido veneradas desde o início do cristianismo. Isso vê-se no filme, quando os corpos daqueles cristãos mártires são queimados e as cinzas deitadas ao mar, de modo a impedir que sejam venerados. Os padres que desistiram da sua fé deram um contra-testemunho. A apostasia naquele caso é um anti-martírio. Se um sacerdote, face visível da Igreja, não está disposto a morrer por Cristo porque é que eu estaria? Por isso mesmo os japoneses querem que os padres neguem a fé publicamente, para servirem de exemplo ao povo e cortarem o cristianismo pela raiz.

O Padre Ferreira e o Padre Rodrigues não se limitaram a apostatar num momento de fraqueza, o que poderia ser mais ou menos compreensível, embora continuasse a ser errado. Eles foram apóstatas o resto da vida, com recorrentes actos de apostasia (exigidos pelas autoridades). E enquanto isso serviam de censores aos artefactos encontrados nas casas das pessoas e que se desconfiava poderem ter alguma simbologia cristã oculta. Aqueles dois homens negaram a fé publicamente, viveram até à morte essa negação e colaboraram activamente com um governo iníquo, que perseguia e executava cristãos. 

É verdade que até ao último suspiro de vida a pessoa se pode arrepender mas não é possível ser um apóstata publicamente e um cristão devoto privadamente. A vida cristã tem de ser una, não é compatível com dualismos esquizofrénicos. O cristão foi chamado pelo próprio Cristo a ser sal da Terra e luz do Mundo (Mt 5, 13-14). Se o sal não salgar vai para o lixo. A luz não pode não iluminar. É verdade que não somos obrigados a parar as pessoas na rua para anunciar a nossa Fé, embora alguns possam ter esse "carisma". É verdade que em tempos de perseguição podemos até não manifestar publicamente sinais exteriores de fé cristã. Mas nunca podemos negar a Deus publicamente e continuar a viver como se nada fosse. A apostasia é um pecado muito grave (contra o primeiro mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas), que quando cometido publicamente exige também a reparação pública, caso a pessoa se arrependa e queria pedir perdão a Deus.

Japoneses: os maus

Durante o filme dificilmente pensamos nas autoridades japonesas, e respectivos soldados, como maus da fita. Estamos demasiado ocupados a tentar perceber se é lícito apostatar ou não, e nem reparamos nas atrocidades indescritíveis que essa gente infligiu a pessoas inocentes, simplesmente por acreditarem num Deus que morreu numa cruz para os salvar. O mais irónico é que aquela perseguição implacável ao cristianismo partiu de quem promovia abertamente o budismo. Todos eles eram budistas "praticantes". 

No mundo Ocidental, desejoso de esoterismo, o budismo é apresentado como um "caminho espiritual” atractivo porque se pode fazer muitas coisas que no catolicismo não são permitidas (especialmente no que concerne ao 6º e 9º mandamentos), e também porque implica a prática da meditação, que traz muita “paz”. Toda a violência que se vê neste filme ajuda a perceber que o budismo não é assim tão pacifista como muitos tentam fazer passar. Mostra também que, ao longo da História, os cristãos foram, e ainda são, brutalmente perseguidos por causa da sua Fé.

Ad maiorem Dei gloriam

João Silveira


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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

O Estado pode saber qual a religião verdadeira? Sim, diz Leão XIII

Devem, pois, os chefes de Estado ter por santo o nome de Deus e colocar no número dos seus principais deveres favorecer a religião, protegê-la com a sua benevolência, cobri-la com a autoridade tutelar das leis, e nada estabelecerem ou decidirem que seja contrário à integridade dela. E isso devem-no eles aos cidadãos de que são chefes. 

Todos nós, com efeito, enquanto existimos, somos nascidos e educados em vista de um bem supremo e final ao qual é preciso referir tudo, colocado que está nos céus, além desta frágil e curta existência. Já que disso é que depende a completa e perfeita felicidade dos homens, é do interesse supremo de cada um alcançar esse fim. 

Como, pois, a sociedade civil foi estabelecida para a utilidade de todos, deve, favorecendo a prosperidade pública, prover ao bem dos cidadãos de modo não somente a não opor qualquer obstáculo, mas a assegurar todas as facilidades possíveis à procura e à aquisição desse bem supremo e imutável ao qual eles próprios aspiram. A primeira de todas consiste em fazer respeitar a santa e inviolável observância da religião, cujos deveres unem o homem a Deus.

Quanto a decidir qual religião é a verdadeira, isso não é difícil a quem quiser julgar disso com prudência e sinceridade. Efectivamente, provas numerosíssimas e evidentes, a verdade das profecias, a multidão dos milagres, a prodigiosa celeridade da propagação da fé, mesmo entre os seus inimigos e a despeito dos maiores obstáculos, o testemunho dos mártires e outros argumentos semelhantes, provam claramente que a única religião verdadeira é a que o próprio Jesus Cristo instituiu e deu à sua Igreja a missão de guardar e propagar.

Papa Leão XIII in Carta Encíclia 'Immortale Dei' (§12, §13)


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