quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Qual o problema do incesto?

Na mentalidade 'moderna', adjectivo usado e abusado pelo primeiro ministro de Portugal, tudo é relativo. Talvez seja uma tentativa de adaptar a teoria da relatividade à moralidade , mas é um facto assente que para o status quo, tudo o que se passa entre dois adultos (por enquanto não falam em crianças), de maneira consensual, é bom. É conservador e retrógrado dizer que um comportamento, nomeadamente sexual, não é bom para a pessoa, pois se a própria o quer fazer, como é que pode não ser bom? Seguindo esta ideia  peregrina, a relação entre duas pessoas do mesmo sexo tem sido equiparada, até em termos educativos, a uma relação entre pessoas de sexos diferentes. Já faz todo o sentido que hoje em dia o príncipe encantado espere por outro príncipe encantado para poder casar e ter muitos filhos loiros.

Mas agora pergunto, seguindo esta linha de pensamento, o que impede que o incesto seja uma coisa boa para a pessoa? Não estou a falar de abuso de crianças, mas sim entre adultos, de maneira consensual, como acontece mais do que se pensa. Um professor da universidade Columbia, nos Estados Unidos, acabou de ser acusado desse crime. Os liberais cibernáuticos estão um pouco confusos com o juízo que devem fazer nestes casos, visto que defendem que 'vale tudo', porque é que nestes casos já não há-de valer?

Quando se arranja uma moralidade alternativa à verdadeira, não é que não faça sentido ou não responda nalguns casos, o problema é que não responde em todos.

João Silveira


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6 comentários:

JMM disse...

A discussão perde-se nestas tentativas de comparação. Um pouco como se perde a discussão quando se compara o aborto ao homicídio.

O que se discute é a transformação de uma união homossexual em algo consagrado pela estado. A união em si não é questionável sendo que é, sim, questionável a sua formalização.

A discussão tem de passar pela consideração do papel do Estado em toda esta questão.

Não dei a minha opinião sobre o tema pois só pretendo assinalar a relevância que tem discutir o caso concreto e o seu enquadramento formal.

João Silveira disse...

A ideia deste artigo não falar da formalização nem do papel do Estado, é sim de mostrar a incoerência duma visão que apoia um certo tipo de relacionamento (porque os intervenientes são livres) mas recusa outros (cujos intervenientes são também livres).

JMM disse...

Bem, acho que a única coisa que há a discutir é mesmo o papel do Estado. A homossexualidade é uma realidade.

Apoiar ou não o relacionamento homossexual deveria ser completamente irrelevante para os homossexuais fora do contexto da formalização. Não é algo que careça de apoio ou "oposição".

Discutir se é ou não um relacionamento digno de aceitação generalizada parece-me dispensável pois, como quase tudo numa sociedade, a aceitação e rejeição das coisas é cíclica.

Gostei de ler alguns dos teus artigos.

Abraço.

João Silveira disse...

Começando pelo mais importante: obrigado pelo elogio! :)

O papel do Estado só pode ser definido com um apoio (mesmo que silencioso) duma grande parte da população. Por exemplo, se o Estado tentasse implementar o apartaid, seria rapidamente posto à andar.

O que se tem passado é uma luta para mudar as ideias das pessoas. A campanha ideológica dum lobby muito poderoso conseguiu fazer com o que o que há 40 anos fosse visto como um comportamento reprovável seja agora visto como normal, como apenas uma opção. E não contentes com isto, ostracizam quem ousar pensar o contrário, como se vê com milhares de exemplos de pessoas que foram censuradas por discordarem desse tipo de comportamentos.

Não se trata de criticar pessoas, mas sim comportamentos. Infelizmente isto tornou-se num tabu, num dado adquirido. No entanto outro tipo de comportamentos como o incesto ou a pedofilia são ainda criticáveis. Veremos até quando...

JMM disse...

Concordo com tudo menos com o que se refere à pedofilia.

A comparação com o incesto, por muito que considere que as comparações são de evitar, parece-me ajustada. Pelo menos no que toca à parte da questão associada à liberdade dos agentes sem prejudicar directamente terceiros("homossexuais são pessoas livres que consentem").

A pedofilia é diferente e envolve outras coisas sendo que não se pode por no mesmo plano do demais.

Já a relevância da formalização (pelo Estado) parece ser o ponto fundamental pois comportamentos em que haja consentimento são sempre extremamente difíceis de impedir (aqui quer o incesto quer a homossexualidade servem como exemplo pois também não se consegue impedir o incesto por muito que se considere que tal é errado).

De facto, antes da legalização do casamento homossexual já existiam homossexuais e os comportamentos não mudaram pela legalização da união. Por isso mesmo a luta é feita na formalização, porque os comportamentos já eram permitidos sendo que o que faltava era o aval do Estado (que aqui representa a generalidade).

E tudo estaria bem se o debate da formalização tivesse sido feito seguindo os trâmites de um debate normal, ou seja discussão de ideias (depois seguido de votação). Nem uma coisa nem outra ocorreu.

No que toca ao debate ele foi debilitado à partida pela influência dos meios de comunicação social que procuraram passar a homossexualidade como um comportamento normal. Isso foi feito promovendo a homossexualidade como um produto de marketing (como uma cerveja ou umas botas), algo comum. Claro que isso apenas assinala a sua diferença pois a heterossexualidade, que eu saiba, nunca careceu de promoção.

Já no que toca à votação ela nunca ocorreu, o Parlamento achou por bem promover a sua agenda "liberal"(palavra tão boa e alvo de maus tratos hoje em dia). Passou, afinal ninguém quer passar a imagem de ser contra a pessoa X ou Y (sendo X e Y homossexuais).

Ou seja, o debate de ideias (Casamento Homossexual, sim ou não?) próprio de uma democracia foi substituído por malabarismos hollywoodescos e matemática eleitoral.

Isto tudo para dizer o que já disse antes, ou seja que o apoio ou não é irrelevante. O que releva é a formalização. Esse debate era o que queria e é aquilo que os representantes do povo (parlamento)e o lobby, como disse e bem, nos retiraram. A sociedade portuguesa tinha o direito de debater o assunto sem qualquer tipo de product placemment, não nos deixaram.

João Silveira disse...

Sem dúvida!