sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Um pensamento simples - G.K. Chesterton

Muitos homens retornariam à fé e moral dos velhos tempos se conseguissem alargar as suas mentes o suficiente. É principalmente estreiteza mental que os mantém na rotina da negação. Mas esse alargamento é facilmente mal-entendido, porque a mente deve se alargar para perceber as coisas simples; ou mesmo as coisas auto-evidentes. Precisa-se de um esforço de imaginação para perceber os objectos óbvios contra um fundo óbvio; e especialmente os objectos grandes contra um fundo grande. Há sempre o tipo de homem que não consegue perceber nada excepto uma mancha na carpete, pois não consegue perceber a carpete. E isso tende à irritação, que ele pode perceber e transformar numa rebelião. Então há o tipo de homem que percebe somente a carpete, talvez porque seja uma carpete nova. Isso é mais humano, mas pode estar manchado de vaidade e mesmo vulgaridade. Há o homem que pode ver somente a sala acarpetada; e isso tenderá a isolá-lo demais das outras coisas, especialmente dos quartos dos empregados. Finalmente, há o homem com larga imaginação, que não se consegue sentar num cómodo acarpetado, ou mesmo no quarto de despejo, sem perceber, a todo o momento, o contorno de toda a casa contra seu fundo aborígene de terra e céu. Ele, compreenden que o tecto foi feito, desde o início, como uma protecção contra o sol ou a neve, e a porta contra o frio ou a lama, saberá melhor que o restante dos homens – e não pior – as regras internas. Ele saberá melhor que o primeiro homem que não deve haver mancha na carpete. Mas ele saberá, diferentemente do primeiro homem, porque há uma carpete.

Ele considerará da mesma maneira uma nódoa ou mancha nos registos de sua tradição ou credo. Não a explicará ingenuamente; não a desprezará. Ao contrário, ele a verá de maneira muito simples; mas ele também a verá de maneira muito ampla; e contra um fundo de coisas amplas. Fará o que seus críticos nunca farão, de forma alguma; ele verá as coisas óbvias e fará as perguntas óbvias. Pois quanto mais eu leio a crítica religiosa moderna, especialmente a que se refere à minha própria religião, mais me impressiono com a acanhada concentração e a incapacidade imaginativa de considerar o problema como um todo. Li recentemente uma condenação muito moderada de práticas católicas, vinda dos EUA, onde as condenações estão longe de ser moderadas. Ela toma a forma, de maneira geral, de um enxame de questões, perguntas que eu estaria muito disposto a responder. Contudo, estou vivamente consciente das grandes questões que não foram formuladas.

E sinto, acima de tudo, este facto simples e esquecido; que se certas acusações são ou não são verdadeiras em relação aos católicos, elas são inquestionavelmente verdadeiras em relação aos demais. Nunca ocorre ao crítico fazer algo tão simples quanto comparar o que é o católico com o que é não-católico. Uma coisa que nunca parece passar pela sua mente, quando ele discute o que é a Igreja, é a simples questão do que seria do mundo sem ela. O resto está aqui.


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